De acordo com a quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM – V), o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é classificado enquanto um Transtorno do Neurodesenvolvimento, ou seja, faz parte de um grupo de condições com início no período do desenvolvimento, apresentados tipicamente por déficits no desenvolvimento que geram prejuízos pessoais, sociais, acadêmicos e profissionais. Os déficits apresentados nos diferentes transtornos do neurodesenvolvimento podem variar entre limitações específicas de aprendizagem até dificuldades globais em habilidades sociais ou de inteligência. Neste grupo, em alguns casos, os sintomas clínicos podem ser apresentados tanto nos excessos como nos déficits de características importantes nos marcos esperados no desenvolvimento típico.
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Em termos diagnósticos, de acordo com o DSM-V, o Transtorno do Espectro Autista se caracteriza por: A) Déficits persistentes na comunicação social e na interação social em diferentes contextos (déficits na reciprocidade socioemocional; déficits nos comportamentos comunicativos não verbais usados para a interação social; déficits para desenvolver, manter e compreender relacionamentos); B) Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades (movimentos motores, uso de objetos ou fala estereotipados ou repetitivos; insistência nas mesmas coisas e padrões ritualizados de comportamento; interesses fixos e altamente restritos em intensidade e foco; hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesse incomum por aspectos sensoriais do ambiente); C) Os sintomas devem estar presentes de forma precoce no desenvolvimento (apesar de alguns sintomas não estarem totalmente manifestos de acordo com as demandas sociais envolvidas que excedam as capacidades do indivíduo ou mascarados por estratégias aprendidas ao longo da vida); D) Os sintomas causam prejuízos clinicamente significativos no funcionamento social, profissional e/ou em demais áreas relevantes do indivíduo; E) Os sintomas não são justificados por deficiência intelectual (DI) ou por atraso global no desenvolvimento (existe comorbidade entre TEA e DI, contudo, para fazer o diagnóstico de tal, a comunicação social deve estar abaixo do esperado para o nível geral do desenvolvimento). Existem três níveis de gravidade no TEA, sendo o 1º com menor intensidade de prejuízos e necessidade de apoio e o 3º com maior intensidade de prejuízos e necessidade de apoio de acordo com os critérios A e B.
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As características essenciais do transtorno do espectro autista são prejuízo persistente na comunicação social recíproca e na interação social (Critério A) e padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades (Critério B). Esses sintomas estão presentes desde o início da infância e limitam ou prejudicam o funcionamento diário (Critérios C e D). O estágio em que o prejuízo funcional fica evidente irá variar de acordo com características do indivíduo e seu ambiente. Características diagnósticas nucleares estão evidentes no período do desenvolvimento, mas intervenções, compensações e apoio atual podem mascarar as dificuldades, pelo menos em alguns contextos. Manifestações do transtorno também variam muito dependendo da gravidade da condição autista, do nível de desenvolvimento e da idade cronológica; daí o uso do termo espectro. O transtorno do espectro autista engloba transtornos antes chamados de autismo infantil precoce, autismo infantil, autismo de Kanner, autismo de alto funcionamento, autismo atípico, transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação, transtorno desintegrativo da infância e transtorno de Asperger (DSM – V, 2013).
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De acordo com os impactos precoces no desenvolvimento, a implementação de intervenções igualmente precoces e intensivas apresentam maior indicação entre os profissionais, sendo as propostas com base na Análise Aplicada do Comportamento (Applied Behavior Analysis – ABA) com resultados comprovados pela comunidade científica (Fernandes e Amato, 2013).
Contudo, a Análise do Comportamento Aplicada (ABA), não refere-se à um conjunto de técnicas ou um método de intervenção para TEA. Pelo contrário, ABA trata-se da aplicação da Ciência do Comportamento Humano à contextos sociais, ciência esta baseada em evidências, e alinhada aos pressupostos filosóficos do Behaviorismo Radical. As intervenções baseiam-se em objetivos específicos, através de uma avaliação individual e constante do repertório de cada pessoa. Na intervenção são comumente trabalhados à fim de estimular diversas áreas do desenvolvimento, sobretudo, aquelas com maiores déficits comportamentais, resoluções de demandas específicas e recursos educacionais, por exemplo. Importante salientar que uma boa intervenção baseada na ciência da Análise do Comportamento Aplicada preocupa-se com: a eficácia dos resultados; a aplicabilidade dos alvos dos atendimentos; a conceitualização das intervenções de acordo com os princípios da Análise do Comportamento; a utilização da análise funcional dos comportamentos de cada cliente; a tecnologia ao descrever com clareza os procedimentos aplicados; a generalização dos comportamentos aprendidos durante a intervenção em outros contextos; e com foco nos comportamentos a serem desenvolvidos.
A Human Animal Bond Research Institute apresenta uma seção em seu site (veja aqui) dedicada em apresentar a aplicabilidade da Intervenção Assistida por Animais (IAA) para casos de TEA. Nela, destaca-se o trabalho da Fundação North Star que utiliza a IAA para auxiliar no tratamento de pessoas com TEA.
Uma revisão de literatura atual (O’Haire, 2013) apresentada pelo instituto refere que a IAA apresentou-se eficaz para pessoas com TEA, sobretudo no aumento do repertório social, com destaque à maior motivação na interação social e habilidades relacionadas. Outros estudos identificaram que a Terapia Assistida por Animais (TAA) quando associada às intervenções especializadas e tradicionais pode ser benéfica para pessoas com TEA, na ampliação de repertórios sociais importantes (Sams et al, 2006).
Outros estudos citados pela HABRI apresentam que cães de serviço junto à famílias que crianças que vivem com TEA também apresentaram resultados significativos acerca do repertório social, além da diminuição dos níveis de cortisol dos membros da família na presença do cão, e o aumento na sua ausência (Burrows, 2006).
Além disso, outros estudos apontam o uso de animais maiores, como equinos (Gabriels et al, 2012) e animais menores, como porquinho da índia (O’Haire, 2013) em programas terapêuticos eficazes em crianças e adolescentes dentro do espectro do autismo.
Vale ressaltar que a aplicabilidade dos programas deve ser identificada, avaliada e desempenhada por profissionais da área, de acordo com os princípios das Intervenções Assistidas por Animais (IAA).
Esquema – O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e Terapia Assistida por Animais (TAA)
Referências Bibliográficas:
American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition (DSM-V). Arlington, VA: American Psychiatric Association, 2013
Burrows, K. E., Adams, C. L., & Spiers, J. (2008). Sentinels of safety: Service dogs ensure safety and enhance freedom and well-being for families with autistic children. Qualitative health research, 18(12), 1642-1649.
Fernandes, Fernanda Dreux Miranda, & Amato, Cibelle Albuquerque de la Higuera. (2013). Análise de Comportamento Aplicada e Distúrbios do Espectro do Autismo: revisão de literatura. CoDAS, 25(3), 289-296.
Gabriels, R. L., Agnew, J. A., Holt, K. D., Shoffner, A., Zhaoxing, P., Ruzzano, S., … & Mesibov, G. (2012). Pilot study measuring the effects of therapeutic horseback riding on school-age children and adolescents with autism spectrum disorders. Research in Autism Spectrum Disorders, 6(2), 578-588.
O’Haire ME. Review of current evidence and future directions in animal-assisted intervention for children with autism. OA Autism 2013 Mar 10;1(1):6.
O’Haire, Marguerite E., et al. “Social behaviors increase in children with autism in the presence of animals compared to toys.” PloS one 8.2 (2013): e57010.
Sams, M. J., Fortney, E. V., & Willenbring, S. (2006). Occupational therapy incorporating animals for children with autism: A pilot investigation. American Journal of Occupational Therapy, 60(3), 268-274.